quarta-feira, 27 de maio de 2009

A afinidade


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e
penetrante dos sentimentos. É o mais independente. Não importa
o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as
impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato
ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo
mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo para o
objetivo.
Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de
códigos verbais para se manifestar.
Afinidade é sentir com, nem sentir contra, nem sentir para,
nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas
quanto das impossibilidades vividas. Afinidade é retomar a
relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas
oportunidades dadas(tiradas) pela vida, para que a maturação
comum pudesse se dar. E para que cada pessoa pudesse e possa
ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada
do eu individual aprimora.

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