quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mostre Consistência

Paris, França, 1954. Elie Wiesel é o correspondente de um jornal judaico. Uma década antes ele tinha sido prisioneiro em um campo de concentração para judeus. Uma década depois viria a ser conhecido como autor da obra Night (Noite), um relato sobre o Holocausto, ganhador do prêmio Pulitzer. Depois disso, ele recebeu a Medalha do Congresso, e o Prêmio Nobel da Paz. Mas nesta noite Elie Wiesel é um desconhecido correspondente de um jornal, de vinte e seis anos de idade. Está prestes a entrevistar o autor francês François Mauriac, um cristão devoto. Mauriac é o mais recente ganhador francês do Prêmio Nobel de Literatura e é um especialista em política francesa. Wiesel chega apartamento de Mauriac, nervoso e fumando muito – suas emoções ainda estão descontroladas devido ao horror do nazismo, e sua inexperiência como escritor complica-o ainda mais. Mauriac, que é mais velho, tenta deixá-lo mais à vontade. Ele convida Wiesel para entrar, e os dois se sentam na pequena sala. Antes que Wiesel possa fazer uma pergunta, Mauriac começa a falar sobre seu assunto preferido: Cristianismo e Jesus. Wiesel se inquieta. O nome de Jesus é como um dedo apertando suas feridas. Wiesel tenta reorientar a conversa, mas não consegue. É como se cada coisa na criação levasse de volta ao assunto Jesus e Cristianismo. Mauriac leva cada assunto de volta ao Messias. Wiesel começa a se irritar. O anti-semitismo cristão com que conviveu enquanto crescia, as camadas de tristeza resultantes dos campos de concentração – tudo aquilo ferve e transborda. Ele deixa sua caneta de lado, fecha o seu caderno e se levanta zangado. - Cavalheiro – ele diz a Mauriac, que ainda estava sentado – o senhor fala de Cristo. Os cristãos adoram falar dele. A paixão de Cristo, a agonia de Cristo, a morte de Cristo. Em sua religião, é só disso que vocês falam. Bem, eu quero que o senhor saiba que há dez anos, não muito longe daqui, eu conheci crianças judias e cada uma delas sofreu mil vezes mais, seis milhões de vezes mais que Cristo na Cruz. E nós não falamos delas. O Senhor consegue entender isso? Nós não falamos delas. Mauriac ficou surpreso. Wiesel se volta e sai pela porta. Mauriac permanece sentado, em choque, ainda envolto em sua manta de lã. O jovem repórter ainda está apertando o botão do elevador quando Mauriac surge no hall. Ele toca gentilmente o braço de Wiesel. “Volte”, ele implora. Wiesel concorda, e os dois se sentam no sofá. A esta altura Mauriac começa a chorar. Ele olha para Wiesel mas não diz nada. Só chora. Wiesel começa a pedir desculpas. Mauriac não aceita. Ao invés disso, insiste com seu novo amigo para que ele fale. Ele quer ouvir tudo – sobre os campos, os trens, as mortes. Ele pergunta a Wiesel por que não escreve sobre isso. Wiesel diz que a dor é demasiadamente grande. Ele fez um voto de silêncio. O homem mais velho lhe diz que ele deve quebrar o voto de silêncio. O homem mais velho lhe diz que ele deve quebrar este voto e falar. Aquela noite transformou os dois homens. O drama se transformou na base de uma amizade que durou a vida inteira. Eles se corresponderam até a morte de Mauriac em 1970. “Devo a minha carreira a François Mauriac” Disse Wiesel... e foi a Mauriac que Wiesel enviou o primeiro manuscrito da obra Night. O que teria acontecido se Mauriac tivesse mantido a porta fechada? Alguém o teria culpado? Atingido pelas duras palavras de Wiesel, poderia ter ficado impaciente com o jovem zangado e contente por ter se livrado dele. Mas não foi assim. Ele reagiu decisiva, rápida e afetuosamente. Ele foi “lento na fervura”. E por agir assim, um coração começou a ser curado. Consistência. Ela se revela nos empregados leais, que chegam no horário, arregaçam as mangas e se comprometem a fazer mais do que ficar vigiando o relógio. A diligencia é sua irmã... dependência sua parceira... disciplina, sua mãe. Lembre-se: Consistência. É uma jóia linda para se usar... É uma âncora na qual podemos nos amarrar... É o fio que vale a pena tecer... É a batalha que devemos vencer...” (Autor não identificado)

Nenhum comentário: